segunda-feira, 17 de maio de 2010

Psicoses escritas e ditas

Há uma coisa que me apoquenta constantemente. Sempre tive uma psicose muito grande com erros de português, apesar de, volta e meia, também largar o meu. Geralmente é quando estou a comentar fotos que "já nem sei que lhes diga" ou a escrever coisas que "não interessam nem ao menino Jesus" (que, no fundo, já era um homem feito quando morreu e, quando pequeno, tinha mais interesse pela carpintaria... o que eventualmente poderá explicar o porquê de não lhe interessar).
Ora bem (expressão muito usada por um professor lá da ESCS que não vale a pena dizer o nome), vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

Primeira parte - Os come letras
Há pessoas que comem letras quando falam. Digo isto porque se nota que algumas pessoas têm uma forma de falar subnutrida na qual, enquanto falam, comem letras e às vezes até silabas inteiras.

Exemplo: Marlboro
Qual é a dificuldade de dizer Marlboro pronunciando todas as letras? Se as pessoas conseguem dizer Nuno Markl, Marília, MARL (Mercado Abastecedor da Região de Lisboa) ou Marlene (desculpa, tia!), porque é que comem o R e o L e às vezes até os dois? Eu era capaz de jurar que há pessoas que fumam todos os dias 4 marcas diferentes do mesmo tabaco. De manhã, depois do pequeno-almoço, vão ao café e pedem "É um Marlboro, por favor". Fumam o primeiro cigarro do dia e lá vão trabalhar. Chegam ao trabalho, depois de levar com o suor daquelas pessoas que às 8 da manhã já cheiram mal e deixam uma pessoa mal disposta logo no autocarro, e o colega da secção de Contabilidade pergunta-lhes: "Arranjas-me um cigarro? Ah! É Marboro? Também já fumei disso...". É o enjoo! Segue uma manhã de árduo trabalho e de ressaca psicológica por três minutos de sossego sem ouvir a Maria da recepção a conversar com a mãe ao telefone e por um cigarro. Ao almoço, depois de comido o esparguete com atum que se fez, já sem vontade de fazer nada, na noite anterior, vai-se ao terraço do edifício e fuma-se um cigarrito com o café da máquina do 1º andar (que dizem que é melhor do que o da do último piso, apesar de serem da mesma marca... ou então é só para meter conversa. Foi o que me disseram no elevador!). Chega a Marta dos Recursos Humanos e exclama como se fosse uma pessoa de extrema inteligência: "Sabes que fumar mata? E essa porcaria do Malboro tem uns aditivos que já ouvi dizer que são ainda piores!". Se fosse eu, perdia logo a vontade de fumar e deixava o vício logo ali. Mas a coisa ainda piora! Por volta das 18 horas, quando se chega a casa, está a empregada a ir embora, depois de uma maratona de Fátima Lopes ao abrigo da nossa conta da electricidade. E diz ela assim, entre os parcos dentes que lhe sobram na boca: "Olhe que encontrei ali um pacote de Maboro que deve ser seu!". É A MORTE À BEIRA DO ABISMO!!! QUATRO MARCAS NUM MESMO MAÇO DE 20 CIGARROS???
Mas há outros flagelos iguais... Como é o caso do Pograma e da Runião! É que a empregada não esteve a ver a Fátima Lopes apenas, esteve a ver algo de sobre-humano que dá pelo nome de POGRAMA enquanto eu estava numa RUNIÃO! O "Pufessor", que deve ser o tipo que faz Puffs e nas horas vagas é docente, devia ter-lhes ensinado que as letras só se comem na sopa mas tocou para o intervalo e já ninguém o ouviu.

Segunda Parte - Os troca letras
Posto isto, resta dizer que a senhora que apresenta o dito espectáculo se chama, na verdade, Fátema e não Fátima. Quando eu era miúda, na terra do meu avô, havia uma família em que a mãe, muito boa pessoa, tinha a triste infelicidade de ter de cuidar, já em idade de pós-reforma, de três irmãos todos eles com alcunhas estranhas. Um era Cão Velho desde novo, o outro não me lembro e o de que vos vou falar dava pelo nome, segundo pronuncia das pessoas, de Corvinho. Quando o senhor morreu, há uns anos, descobri que não era Corvinho coisa nenhuma! No norte, eu ouvia "Corbinhe" ou "Corbim" e pensava "É corvinho, só pode!" e era o que lhe chamava. Mas, na realidade, aquilo virou alcunha porque as pessoas não sabiam dizer o nome dele que era, nem mais nem menos do que... Querubim! Não que ele fosse um anjo mas, se eu passasse a vida inteira a ouvir chamarem-me por um nome que não era o meu, pedia a beatificação imediata pós-morte da minha pessoa. Eu não, quem cá ficasse teria que a pedir, claro que, como diz o meu avô, quando morrer não vou, os outros é que me levam.
Como estes dois exemplos, há também o velho "Há-des cá vir" que deve ser alguma menção ao senhor dos infernos; o "Vocês hadem ver", que vem na mesma lógica mas já numa forma mais sofisticada; o "É só controlar a rotunda" porque é suposto sairmos do carro, fazermos de sinaleiro e só depois, sim, voltarmos ao veículo e contornarmos a rotunda como é de lei; entre tantos e tantos outros casos de que nem vale a pena falar senão perco a fome para o jantar.

Terceira e última parte - Os prefixionistas e os sufixionistas
São duas raças da mesma espécie de indivíduo. Os que prefixam de mais e os que sufixam de mais. No norte, e não censuro ninguém, ninguém se chama Ana ou bebe água. Na verdade, a quando do baptismo, a moça, cristãmente, passa a chamar-se Iana e o padre baptiza-a usando Iágua Benta. Há ainda a variante da Auga que é mais rebuscada mas também se usa. Eu já vi uma pessoa também escrever Voi e Baca num caderno mas não digo quem foi. Há aqueles que não só ouvem como atingem o orgasmo enquanto o fazem que são os que "Escoitam". Quantas vezes ouvi lá naquela tal terra do Querubim a expressão: "Cala-te e escoita!". As pessoa não vêm antes vêm "inhantes" ou "aquando a mim" que é como quem diz "ao mesmo tempo que eu". E depois há as pessoas que pensam que para falar brasileiro é só acrescentar o sufixo "tchi" no meio ou final. Tipo "Qui bonitchinho!" ou "O cara feiz um sketchi de comédjia" e por aí fora... Mas isto não são pessoas que me enervem, são pessoas que me fazem rir até... As que me causam urticária são as que dizem Vistes, Ouvistes, Fizestes, Comestes e outros afins... Em que pessoa está conjugado o verbo??? "Ouve lá, fizestes figura de ursa quando abristes a boca!" e eu respondia "E tu acabaste de seguir o meu exemplo!".

E pronto... Pior do que isto, só mesmo as pessoas que escrevem "às veSes", "Ás de cá vir" e "Apresenta-mos o relatório". Há lá coisa pior do que o mau português? Começo a achar é que eu é que estou errada, porque já me dizem que tenho mau feitio e que é mau da minha parte corrigir as pessoas mas, se eu não as corrigir, elas continuam a dizer asneiras e, nalguns casos, quando falam ou escrevem para alguém que sabe ler e escrever, são motivo de riso. Opa, pronto... Se calhar escrever e falar mal é um acto de pura comédia que, na loucura da coisa, se instituiu no nosso país como um hábito e ninguém me convidou para a festa.

Desculpem lá o mau jeito... Mas tinha que desabafar isto antes de jantar senão os bifes de cebolada não entravam!

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